quarta-feira, outubro 04, 2006

Depeche Mode I



Talvez a mais influente banda dos últimos 20 anos, redefiniu formalmente o rock respeitando as suas convicções e alterando as suas concepções. Quando se formaram no início da década de 80 eram uma banda de electro com aspecto inocente, letras inóculas e qualidade musical mediana, o que não impediu que se tornassem um sucesso no seu país natal talvez devido ao entusiasmo generalizado pela electro que se vivia no Reino Unido. Foi a primeira digressão norte-americana que elevou o grau de exigência da banda e a fez compreender que se podia fazer rock com sintetizadores.

1986 foi o ano de viragem para a banda. Black Celebrationpode não ter sido um sucesso mundial (cerca de 350.000 discos vendidos) mas estabeleceu a atitude que definiria os Depeche Mode no futuro. A música homónima mostra esta sedução pelo obscuro, a gravitation towards negativitycomo viria mais tarde o vocalista e líder da banda David Graham a descrever. As letras tornam-se então mais ousadas, mais explicitas, a sonoridade torna-se mais negra, o visual muda.. a inocência perde-se os Depeche Mode renascem. A partir de “Music for the Masses o sucesso mundial transforma-os simultaneamente na maior banda pop, rock e electro do mundo. Tornavam-se também controversos à medida que o protagonismo aumentava. Seria contudo com “101” que atingiriam o auge da sua carreira iniciada 6 anos antes (estávamos em '88). As letras e melodias de Martin Gore são não só obscuras como apelam ao niilismo de princípios, à ambição/ganância (uma das suas obras-primas, Everything Counts trata justamente estes temas), à luxúria (entre outras Question of time”) e mesmo ao sado-masoquismo (Master and Servant). Por vezes é a própria melodia que veicula estes sentimentos (Stripped”, “Behind the wheel) servindo de apoio a letras que noutros enquadramentos poderiam por exemplo ser catalogadas de românticas.

The Smiths



Sendo este o primeiro post poderia escrever qualquer coisa acerca da finalidade do blog, daquilo que pretende representar etc.. Contudo penso que seria uma perda de tempo, uma vez que ninguém iria ler (e se fosse ler não iria sair enriquecido) tal texto. Por isso falemos de Smiths.

É um cliché dizer-se que os Smiths foram um cometa na música dos anos 80. Em menos de 5 anos lançaram 7 albuns e quase duas dezenas de singles, entre os quais obras unanimamente aclamadas pela crítica e recebidas pelo público como Meat is murder”, “Hatful of hollow” ou na minha opinião, a sua obra-prima: “The queen is dead” com a célebre capa de Allain Dellon.

Ouvir Smiths é para mim um exercício de psicanálise. Morrisey conseguiu transmitir todas as inquietações que se sentem mas que não se dizem, que ficam guardadas no nosso fundo e que tentamos camuflar com falsa autoconfiança (oiça-se “I know it's over” por exemplo). Morrisey deu voz (e Johnny Marr deu som!) às minhas incertezas e mostrou que não são minhas, mas de toda a gente que alguma vez se sentiu tímido, não amado ou deslocado (“How soon is now?”). Para isto demonstrou uma personalidade quase dupla: se por um lado mostrava-se pretensioso, arrogante e sarcástico em público, por outro auto-desdenhava-se nas suas letras demonstrando no mínimo um óptimo sentido de ironia e no máximo um autoconhecimento profundo.

Foram a bandeira da música indie, estabeleceram-se como alternativos mas atacaram o mundo de surpresa a um ritmo extraordinário (a sua produção musical, nem sempre genial era como um fluxo contínuo) e definiram uma nova atitude perante a música numa década onde a superficialidade do glam-rock, do electro ou da pop se centravam muito no visual. Ascenderam em pouco tempo a lendas do rock e rapidamente dele desapareceram (como banda) devido aos conflitos Moz-Marr.

Quando perguntaram a Thom Yorke (vocalista dos Radiohead) quais os versos que sempre cobiçara escrever, este referiu-se ao famoso refrão de “There's a light that never goes out”:

If a double-decker bus crashes into us,

To die by your side is such a heavenly way to die

And if a ten ton truck kill the both of us,

To die by your side, well the peasure, the previlege is mine”

Por um lado incrivelmente poeticos, por outro extremamente irónicos (o reforço exacerbado do dramatismo roça mesmo o humor negro). O génio dos Smiths numa quadra.


Músicas obrigatórias:

This charming man”

How soon is now?”

Last night I dreamt that somebody loved me”

There's a light that never goes out”

The queen is dead”

Se estiverem realmente interessados oiçam a discografia completa, pois 5 músicas são uma ofensa à qualidade da banda.